Um barbeiro do Jaguary que se tornou poeta!
Um barbeiro do Jaguary que se tornou poeta!
Entre nós era conhecido como o bondoso amigo “Zé Bega”. Este apelido, segundo contava, veio do dialeto italiano que se referia a bicho branco e frágil que cresce nas frutas. Talvez tivesse semelhança física com ele, porque foi criança branquinha e franzina. Nós o víamos constantemente, entrando e saindo de sua Barbearia ali no fim da Rua Alfredo Engler, casarão antigo. De óculos, cabelo liso despenteado na testa, calças para baixo da cintura com fraldas da camisa à vista. Sua Barbearia era cheia de clientes e amigos. Rebento da imigração italiana chegada no final do século XIX. Ele nasceu na Vila de Jaguary, no dia 13 de fevereiro de 1926. Filho de Emílio Bergamasco e de D. Aída Frachetta. Eram avós paternos: Carlos Bergamasco e Josefina Grosso e, maternos: Tranquilo Frachetta e Maria Luppi. Foi fruto de famílias de numerosa prole, essencialmente católicas, pertencentes às associações religiosas. Filho obediente, exemplar, ele confessa, em seu livro, que do pai herdou o gosto pelo saber e a alegria de viver. E de sua mãe herdou a humildade e a fé. Acrescentamos: a bondade, a dignidade e doçura das Irmãs Frachetta. Como sua mãe pertenceu ao Apostolado do Coração de Jesus. Cursou o ensino primário no Grupo Escolar de Jaguary, casarão vetusto que ficava na Rua Cândido Bueno nº 1079. Aluno aplicado de sua saudosa professora Lourdes Medeiros. Ali seu pai era inspetor de alunos. O “Grupo velho” deu lugar ao Edifício Fiorindo Granchelli, na década de 1980. Era o primogênito dentre seis irmãos, (José, Carlitão, Prof. Mário, M. Lourdes, Emílio, Eurico Lucilo (Lile)). Ele aprendeu o ofício de barbeiro. Gostava de futebol, jogava no clube “União Esportiva Jaguariense”. No final dos anos 1950 treinava o time dos coroinhas de Padre Gomes, o São Cristóvão, lá no Estádio Santa Maria, “campo do padre”. Frequentador convicto das cerimônias religiosas, cumpria com seu dever de cristão. Desde jovem, segundo revela, gostava de fazer poesia. Encantava-se com a natureza que sensibilizava sua alma de poeta, marcando sua existência. A isto parece ter aliado algum desencontro amoroso que pode ter deixado cicatrizes em seu ser. Amigo de todos, alegre, tinha em seus pais e irmãos a convivência feliz de que necessitava. Cativava a todos com seu modo de ser dócil, pacífico, e revelando-se sempre uma alma abnegada. Estava sempre rodeado dos primos, tios e amigos. Tinha carinho especial pelos sobrinhos que sempre reconheceram nele o amigo fiel. Declarava que nunca havia pensado em publicar um livro, porém alguns anos antes de sua passagem a obra incentivada pelos primos e amigos surgiu. Chama-se “Longe dos Olhos.” Foi publicada em 1985. É precedida de suas palavras e tem um interessante prefácio de Paranhos de Siqueira que diz: “Sua poesia não é, felizmente sem versos, nem os seus versos são sem poesia” ...refletem a paisagem da alma e do coração. “São versos dotados de espírito religioso, de humildade encantadoramente luminosa”. “Autodidata, trabalha com a matéria prima própria: a cultura que adquiriu e a inspiração que Nosso Senhor lhe deu”. Por fim declara que a obra traz mensagem de fé, otimismo e amor que é a missão do poeta, fazendo a alegria do Homem” Nos anos de 1980, participou do movimento político do MDB. Foi membro do diretório político e votava nas convenções partidárias. Faleceu no dia 28 de outubro de 1991. Foi homenageado pela municipalidade dando seu nome a uma rua no Bairro J. Cruzeiro do Sul e pela Escola Estadual Celso Tozzi, que o fez patrono de sua biblioteca. Há notáveis poemas sobre sua cidade natal.
Tomaz de Aquino Pires