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As primeiras construções na Vila de Jaguary


A construção da Igreja de Santa Maria, em 1894, foi o marco oficial de fundação da Vila Bueno, o Coronel Amâncio Bueno construiu-a e doou-a ao clero.  Nesta época encomendou ao engenheiro ferroviário alemão, Guilherme Giesbrecht, a planta da Vila Bueno e o projeto das onze primeiras casas do lugar.  O coronel mandou construí-las nestas antigas terras de sua Fazenda Florianópolis e foi vendendo-as. Dessas onze casas, retratos fiéis da origem de nossa História, restam duas casas restauradas: a Biblioteca Municipal e a Pousada Villa Bueno. As outras foram demolidas ou tiveram suas linhas arquitetônicas totalmente ou parcialmente descaracterizadas. Os casarões das fazendas de café foram as primeiras construções levantadas aqui pelos negros escravizados. São verdadeiras fortalezas de Arte e presença de sol e saúde e símbolo de nossa identidade. Tinham seus alicerces em pedra e porões muito altos e ventilados em todas as direções para conservar as vigotas e os assoalhos em madeira de lei e garantia de Saúde. Assim era todo o madeiramento destas casas. As senhoras, depois que varriam, tiravam as brasas do fogão a lenha, deitavam-nas em uma tampa de latão. Cobriam-nas com galhos de eucalipto perfumado e jogavam colheradas de açúcar sobre elas. A fumaça expulsava os insetos e pernilongos e, incensando, perfumava a casa. Este odor guardado na memória de muita infância, ainda hoje inunda uma vida inteira. Que dizer daquelas manhãs, em que a saída da cama das crianças de outrora, era surpreendida pela faina materna do torrar do café nos quintais?!  O torrador era girado manualmente em uma trempe por sobre o fogo donde desprendia singular aroma, quando se verificava o ponto do mesmo. Os grãos torrados eram moídos na cozinha, a água fervente aguardava o pó. Degustava-se o café com o pão caseiro coberto com a nata do leite. Nas ruas Alfredo Engler e Cândido Bueno os primeiros casarões guardavam as referidas linhas arquitetônicas. O pé direito da casa chegava a seis ou sete metros. Os janelões de grandes cômodos arejavam a saudável morada. O sol adentravaa casa toda. A posição do sol, desinfetante natural dos cômodos, era considerada e valorizada nas construções. Todos queriam que sua casa fosse um sanatório: alta, iluminada pelo sol, muito clara e bem ventilada. As frentes e altas fachadas eram trabalhadas por pedreiros especializados, chamados frentistas. Havia riqueza artística de detalhes arquitetônicos. Quando se recolhia para dormir, aspirava-se o perfume dos manacás e das damas- da –noite, ouvia-se o ciciar dos insetos , o tique-taque do relógio da sala, o soar do sino da igreja, o apito do trem, o canto dos galos... Havia muitas árvores, flores, frutos,  hortaliças, plantas medicinais, ervas para tempero nos pomares e em todos os quintais. As ruas eram de terra, absorviam todo calor do sol. Dormia-se com portas e portões destrancados. O capitalismo selvagem ainda não havia devastado o Patrimônio Histórico das ruas e fazendas. Tudo concorria para um sono tranqüilo. Cruzávamos as mãos e rezávamos um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Nossa mãe vinha beijar-nos e arrumar-nos na cama e nos dizia:” – Durma com todos os anjinhos e santinhos do céu”. Tomaz de Aquino Pires

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