História da água em Jaguary
A inauguração solene do abastecimento de água na Vila Bueno aconteceu nas festas populares de 24 e 25 de junho de 1902. O chefe político republicano e fundador do local, Cel. Amâncio Bueno, proprietário da Faz. Florianópolis e de outras, de café, procedeu à referida inauguração junto com a da iluminação pública e das escolas estaduais masculina e feminina. Neste ano doou uma nascente à Câmara de Mogi-Mirim, doou também o terreno para o Cemitério Municipal. A nascente deveria ter sua água canalizada à Praça da Matriz e à Estação Férrea. O chafariz foi instalado a alguns metros diante da igreja, à sua esquerda. O povo da Vila servia-se desta água. Porém, conforme se combinou, ela não foi plenamente canalizada, pois “A Comarca” de 03/04/1912 queixa-se da falta d’água na Estação de Jaguary. E registra: “Estamos lutando com a falta d’água potável, apesar de nossa localidade estar à beira do rio. Há cerca de onze anos que um fazendeiro doou à Câmara de Mogi-Mirim, um manancial, sob a condição de canalizá-la até aos prédios desta vila, inclusive o do aludido fazendeiro. A água foi canalizada somente até ao nosso largo da Matriz e aí se construiu um chafariz donde até então o povo, satisfeito, tem-se abastecido, sem jamais reclamar sobre o prolongamento da canalização aos seus prédios. Gabriel Sayad e Décio de Almeida oficiaram `Prefeitura de Mogi-Mirim, pedindo licença para levarem uma derivação do chafariz às suas propriedades, à sua custa, sem dispêndio para os cofres municipais. Há poucos dias o fazendeiro, sabedor do aludido requerimento e como não é mais chefe político desta localidade, mandou um seu empregado intimar os requerentes a pagarem 100$000(réis) de cada torneira que adaptassem àquela divisão, o que lhe foi recusado. Em represália o fazendeiro fechou o registro da água, ficando assim a população de Jaguary sem água potável. Fizeram reclamações à Câmara de Mogi sem que a mesma tomasse providências. O povo vive sempre iludido com políticos que, às vésperas das eleições, prometem muito. Esta notícia foi publicada no Diário do Povo de Campinas. E registra que de Jaguary nos comunicaram ontem que foi restabelecido o fornecimento de água. Em 1916 sobrevém terrível seca.A água não tem sido suficiente para o nosso povo. O fiscal municipal, Sr. Lucilo Poltronieri, convidou a imprensa mogimiriana para ver as nascentes. Acham-se quase secas, não havendo culpa da falta d’água por parte do Sr. Fiscal. Em fevereiro de 1927 surge um abaixo-assinado com uma centena de assinaturas que entra na Câmara Municipal de Mogi-Mirim pedindo a realização da aspirada água encanada em Jaguary. O artigo do correspondente declara insuportável a situação da falta absoluta de água potável canalizada. O articulista comenta que os poços constituem meios anacrônicos, pois são perigosos, porque onde há fossas latrinárias a infiltração é possível e o perigo, sempre latente, pode transformar-se em triste calamidade. Há alguns anos atrás, tinha Jaguary água encanada, embora escassa e de má qualidade. A falta d’água afugenta todas as iniciativas. Dê-se a este Distrito abundante água potável canalizada e ele progredirá. A água traria como conseqüência natural o estabelecimento da rede de esgotos. A topografia favorece. Assinaram o documento o Sr. Alberto de Almeida, sub-prefeito, Francisco F. Correa Viana, sub-delegado de polícia, Hermínio José Massoti, escrivão de paz, o farmarcêutico Arnaldo Pereira Braga, Fortunato Chiavegato, 3º juiz de Paz, João Bassi, suplente do sub-delegado, Gabriel Sayad, Moysés Turato, comerciantes, Jacques Valentim, suplente do juiz de paz, Luís Guaraldo, proprietário, João Ferrari, negociante, Lucillo Rodrigues Silva, dentista e mais cem assinaturas. Em abril do corrente ano “A Comarca” publica novamente artigo do correspondente mostrando a aspiração do povo da Vila pela água potável, enfatizando a ação benéfica e patriótica da municipalidade requerendo a mesma, “ela será o remédio à maior das nossas necessidades”. O que é fato é que Jaguary, dotado de águas e esgotos, será uma Vila que fará honra ao município a que pertence. Novo artigo publicado no periódico mogimiriano em julho de 1934, lamentava a falta de água encanada e comentava que há quase 20 anos já havíamos tido água encanada, existindo ainda pelos quintais torneiras e em uma das praças o clássico chafariz, remanescentes serviços de um progresso que existira e que a incúria dos poderes públicos não soubera conservar. E prossegue:_ “Segundo estamos informados, os Srs. Alonso J. de Almeida e Alberto de Almeida, este membro do P.C. local, já se entenderam com o Sr. José Pires Jr., fazendeiro e dono de uma das melhores fontes de água do Distrito,os quais chegaram a um acordo bastante satisfatório que nos autoriza a prognosticar para breves dias esse melhoramento tão desejado.Setembro/1934, Câmara e Prefeitura de Mogi enviam engenheiro para visitar a Vila e fazer a localização e estudos do serviço de instalação de água. “O manancial do abastecimento será suprido com as águas que foram oferecidas gratuitamente, à Prefeitura, pelo presente concidadão Sr. Capitão José Pires Jr. um dos grandes amigos do progresso de Jaguary, e seu antigo Sub-prefeito. A captação será feita das nascentes da Faz. Florianópolis, próximas à vila, sendo, na rede de águas, aproveitados os antigos canos pertencentes à Prefeitura. É um gesto belíssimo do distinto patrício que bem demonstra o amor à nossa terra.” Na verdade, Câmara e Prefeitura de Mogi-Mirim não conseguiram realizar tal sonho. A Água encanada só chegou, nos anos 60, após nossa emancipação político-administrativa. Tomaz de Aquino Pires