Memórias dos Negros Pioneiros do Velho Jaguary - Família Matheus Santana
Família Matheus Santana: Outra Família Negra Pioneira era do Sr. José Matheus Santana e d. Dejanira Roque de Souza. Ele era filho de José Santana e de D. Olegária (do Carmo?). Era conhecido como “Zé Carrero” e foi vendido do Estado da Bahia para fazenda da Vila Bueno; segundo publicações da Gazeta Regional, setembro/2004 e do site Estrela da Mogiana/setembro/2018, entrevista concedida pela neta Alaíde do Carmo Matheus Santana, à jornalista Gislaine Mathias. Ela revelou que seus antecedentes eram família de escravos do Cel. Amâncio Bueno na Fazenda Florianópolis. A neta relata que o avô José Santana reunia as crianças na casa do Velho Matadouro. Ela ficava próximo do Jatobazeiro, às margens do Rio Jaguari, entre a Ponte Pedro Abrucês (Ponte Vermelha) e a ponte da Maria Fumaça. Ali Ele contava as asperezas de sua vida de escravo, seus pesados trabalhos... Havia negros que aspiravam à liberdade e fugiam. Eram perseguidos até serem capturados. Iam para o tronco onde eram muito surrados. Seu avô apresentava marcas de punição pelo corpo e pernas. O negro velho, sereno, relatava tais passagens com mágoas. Mencionava com alegria a “Lei Áurea”. Muito forte viveu até seus 114 anos, era alegre e fazia roda de samba entre os familiares. Faleceu em 1946. A princípio, os pais de Alaíde moravam na primitiva casa que foi a 1ª cadeia pública. Ficava ao lado do Matadouro, patrimônio demolido com a abertura da Avenida Marginal nos anos 1980/1990. D. Dejanira Roque de Sousa, a esposa de José Matheus Santana era exímia cozinheira de sede de fazenda, entre elas, Florianópolis. Um de seus filhos José Carlos, apelidado “Zé Bereba” tornou-se ali peão de boiadeiro. Do velho matadouro, eles mudaram-se para casario, atrás da Estação Velha, na mesma Rua de Baixo. Este imóvel foi outro patrimônio histórico demolido, poderia estar ali restaurado, tornado edifício público, marcando a história e decorando a Avenida Marginal. Quando havia almoço de casamento na Vila, nas décadas 1930/1940, os pais da noiva contratavam D. Dejanira, cozinheira experiente, para preparar a leitoa e o peru assados com especial farofa. Ficou característica do local a presença desta simpática e trabalhadora família pioneira, na conhecida Rua de Baixo, ali na vizinhança da Estação Velha. Família Inácio era outra Família Pioneira: Dona Maria Benzedeira. Ela era irmã de D. Dejanira, Chamava-se Maria Roque de Souza, casada com Sr. Aristides Inácio. Se conhecermos uma fotografia da filha de escravos “Nhá Chica” de Baependi, MG, que já foi beatificada e está em processo de canonização, pelo Vaticano, parece estarmos vendo a estimada velhinha benzedeira do centro da Vila de Jaguariúna. Descalça, humilde, bondosa com lenço branco cobrindo da testa à cabeça, pouco curvada pela idade, atendia, sempre graciosamente, as mães, pais e bebês levados a seus cuidados para benzimento. Em silêncio concentrada, orava, após tomar uma vasilha com água, linha e brasa do seu fogão a lenha. Por volta dos anos 1960, exercia ainda o dom da cura aos enfermos que batiam à sua porta. Morava em um casebre, piso de terra, chão batido ondulado, telha vã. Eram aquelas históricas telhas grandes, porosas de formato irregular, moldadas nas coxas, que ainda cobriam muitas casas do Jaguary. Sua vivenda ficava em meio a um quintalão entre outras, na Rua Júlia Bueno, próximo da Avenida Lauro de Carvalho. Ela puxava água do poço, lavava e engomava roupa “muito bem”. Passava roupa com o ferro cheio de brasas. Que saudade daquela doçura de pessoa! Que Ela interceda junto a Deus por todos nós! Tomaz de Aquino Pires
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