“Os negros sambavam no Jaguary em treze de maio”
Minha doce Mãe, Tarsila Ferrari, era contadora de histórias. Tinha em sua mente as memórias vivas de sua infância passada no centro de Jaguary. Era a décima dentre 14 filhos dos comerciantes italianos Eugênia Bodini e João Ferrari. O armazém de meu avô ficava na Rua Alfredo Engler, esquina com a Rua Cel. Amâncio Bueno. O comércio e a casa ficavam diante do comércio da Casa Syria de Gabriel Sayad e na perpendicular do sobrado, residência e comércio dos Poltroniéri. Eu era ainda criança e ouvia dela sobre a noite de treze de maio. Já à tardinha do dia doze, começavam a chegar as Famílias Negras para a grande comemoração. Data que garantiu aos negros a plena liberdade através da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel em 1888. À noitinha, aquele trecho central da Vila já ficava todo movimentado com negros para comemorarem a sua libertação. Durante toda a noite cantavam e dançavam comendo e bebendo das iguarias e bebidas que traziam consigo. Desciam a Cel. Amâncio e cantavam e bailavam pela Alfredo Engler durante toda a noite. Era animada a percussão tirada dos seus tambores. Os correspondentes deste distrito enviavam tais notícias ao jornal de nosso município: Mogy-Mirim. Tais comemorações ocorreram nos anos de 1924-25-30. Em 1924 o periódico semanal registra: -“a mocidade jaguariense oferta um samba aos homens de cor” e acrescenta:_ “à tarde do dia 13 houve concerto pela Banda União Jaguariense.” O maestro era o Sr. Carlos Gianelli. Em homenagem aos povos negros foi composta uma comissão no ano de 1925 por Hermínio Poltroniéri, Alberto de Almeida e Primo Dester. A realização da comemoração foi elogiada pelo jornal onde reinou a melhor ordem e sem o mínimo incidente. No ano de 1930, a imprensa narra que a comemoração foi organizada pela própria Classe. Diversos sambadores abrilhantaram-na, dentre os quais o famoso “Zé Mundão” e sua “troupe” de Campinas. Era grande a Irmandade de São Benedito na Paróquia de Santa Maria do Jaguary composta por muitos negros e muitos brancos também. Houve Missa em ação de graças a São Benedito no dia treze. Era o dedicado pároco Padre Guilherme Bruchhäuser. Nesta época o fotógrafo era o esportista Lauro de Carvalho. Infelizmente não dispomos de nenhum documento fotográfico destas históricas comemorações. Aguardamos a chegada de mais documentos que possam melhorar estes relatos assim como a genealogia das Famílias Negras do Jaguary que ajudaram a construir nossa História. Há Lei que disciplina o ensino da História dos Povos Negros na constituição da História do Brasil. Tomaz de Aquino Pires